domingo, 22 de janeiro de 2006

Um pedaço do passado

Tudo começou a uma eternidade, a uma breve vida. Era uma noite terrível e atormentada, onde nada era o que parecia, onde parecia que tudo estava errado, onde o tempo passava e a noite permanecia. Eu andava entre salas e corredores, e todos os lugares eram iguais. Até que descobri uma sala nova, com uma enorme janela de vidro.
Dessa sala eu via outra construção do lado de fora, a alguns metros de distância. Parecia ser uma sala igual, com a mesma grande janela. E ali havia alguém me olhando com uma expressão que eu nunca tinha conhecido. Ele sorriu e despertou algo que eu não sabia o que era, que eu gostava sem saber o motivo.
Do lado de fora a noite estava fria, e como nós dois não saíamos da sala, a olhar um para o outro, as janelas logo começaram a embaçar. Ao invés de um problema, isso se tornou uma ferramenta: passamos a escrever recados um para o outro no vidro embaçado. Estávamos separados, e extremamente próximos. Ele era real, e estaria ao alcance com algum esforço.
Porém existem pequenos demônios vivendo dentro das mesmas paredes que eu. Todos os temos, os meus não são piores ou mais travessos que os de qualquer pessoa, apenas atacam de surpresa. E não foi diferente nesse caso... Os demônios sussurravam pelos cantos, enchendo o ar com dúvidas e inseguranças. Até o dia em que as palavras na vidraça se desfaziam em veneno.
O afastamento era inevitável. Contudo, a sala estava sempre ali. E quando resolvi entrar mais uma vez, a janela mostrava ainda aquele a quem eu tanto queria. Ele também estava olhando através da janela. Era como se o tempo não tivesse passado. E tudo começou de novo.
Esse ciclo repetiu-se por incontáveis vezes. Sem saber o que acontecia ao certo, levantamos uma muralha transparente entre as janelas. A distância entre nós parecia mínima, quando na verdade era intransponível. A separação alimentava a fúria, a fúria cuspia palavras amargas. As coisas boas pelas quais passamos não eram o bastante para sustentar nossos sentimentos.
Um dia o vidro estava absurdamente turvo, não mudava por mais que eu quisesse limpar. Foi só então que percebi que sempre fora assim. Eu via apenas um vulto, e enxergava as coisas que eu queria ver na outra pessoa. Ele não era a pessoa que eu pensei que fosse, porque eu inventei uma pessoa para ver e amar. Talvez a imagem na outra vidraça fosse eu mesma refletida, falando nas entrelinhas das palavras de outra pessoa. Eram meus desejos, minhas expectativas, minhas paixões, minhas fantasias, meus conceitos, todos em conjunto atuando sobre uma imagem quase indefinida, moldando-a da forma que eu queria que fosse.
Eu saí da sala e tranquei a porta. Por muitas vezes a vontade de voltar é enorme, mas a porta está trancada e a chave perdida. As memórias foram encaixotadas, não têm mais lugar no presente. Eu sei que haverão outras salas, haverão outras pessoas acenando com amores do outro lado da janela. E quero acreditar que um dia haverá uma janela clara o bastante para não deixar que eu molde a imagem. E que a imagem do outro lado não será perfeita, mas a aceitação entre nós será recíproca.
Sim, eu sou uma romântica.

4 Comentários:

Às 3:39 AM , Blogger Alana Phibes disse...

somos duas...e meus quartos estão atulhados...

sabe, houve uma época em que eu realmente me empenhei, e saía, cheguei a pensar até que tinha amigos, mas tudo redundou num grande fracasso...eu fiz tudo certo, fiz coisas até que os outros nao mereciam...a única hipótese aceitável, no ponto de vista dos que me conhecem, é que infelizmente só encontrei as pessoas erradas...
E como 30 anos é muita coisa, eu estou cansada agora...cansada de tentar, cansada de sair sozinha, cansada de acreditar nos outros, cansada de ter esperanças, e tudo acabar do memso jeito no fim...
Talvez se eu me recuperar desse cansaço...eu consiga tentar novamente...

beijos!

 
Às 1:09 AM , Blogger Unknown disse...

Nem li o post tá muito grande. U.u

 
Às 1:12 AM , Blogger Unknown disse...

Nossa, comi uma virgula ali. xD
Mas falando sério.
Sempre foi e sempre será um doce, sempre será romântica.
Eu conheço você e posso falar com justiça.
Pegue o corredor de novo. Sem falsas esperanças, de coração aberto e sabendo que tem a vida inteira pela frente.
=***

 
Às 1:34 AM , Blogger Camila Fernandes disse...

Normalmente é mais fácil sonhar com o que está longe do que agarrar o que está perto.

Às vezes a gente se apaixona não por uma pessoa, mas por uma idéia.

Você encontrou um jeito interessantíssimo de dizer isso.

Aquele beijo que só os românticos podem dar.

 

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial