quinta-feira, 4 de maio de 2006

Minha Maria

Quando eu era pequena (não sei com que idade, mas bem pirralha) fiquei doente por uns dias, tive febre forte e apareceram umas feridas ao redor da boca. Eu já estava melhorzinha, e não sei exatamente por que, Elke Maravilha estava na cidade (inauguração de alguma coisa). Minha avó foi para casa me buscar porque sabia que eu gostava da Elke, e me levou onde ela estava dando autógrafos e tal. Tinha uma fila enorme, aí minha avó me pegou no colo e passou na frente de todo mundo dizendo "a menina está doente"... rs. Ainda tenho a foto, eu com cara de assustada (como na maioria das minhas fotos de criança) no colo da Elke Maravilha, e minha avó do lado, que não queria sair na foto, mas a Elke puxou pela mão. Minha avó toda bonitona, sempre foi vaidosa. Lembro pouco desse dia, a maior parte me contaram, mas lembro nitidamente do perfume da minha avó...
Outra lembrança de quando eu era criança: quando minha avó e o irmão dela que morava com a gente, levavam meu irmão e eu para "engraxar o bigode"... rs. Isso queria dizer que íamos comer fora, quase sempre numa barraca de cachorro-quente perto de casa, mas algumas vezes numa lanchonete ou restaurante. Na verdade, meu irmão e eu pouco ligávamos para onde íamos, a saída é que era o acontecimento principal, ficávamos na maior alegria.
E quando eu resolvia fugir de casa? Juntava meu travesseiro, meu cobertor, uns brinquedos, e ia para a casa da minha avó. O detalhe: eu morava na casa da frente e ela na casa dos fundos. Mas eu passava uma semana "fugida", morando com ela. Ou meu irmão e eu simplesmente íamos dormir na casa dela, sem motivo nenhum. Era sempre um acontecimento, ela colocava o colchão dela no chão da sala, deixava a gente ver TV até tarde, nos contava histórias que já conhecíamos de cor, mas sempre pedíamos pra ouvir de novo. E dormíamos todos juntos.
Desde pequenos, nunca a chamamos de avó, meu pai a chamava pelo nome e nós acostumamos. Ela era a Maria, sabem... Uma segunda mãe para nós, os únicos netos. Passávamos mais tempo na casa dela do que na nossa, falávamos que a comida da minha mãe era ruim, só a da Maria era boa... rs. Ela cozinhava muito bem, aprendi muita coisa com ela. Típica avó italiana, a nonna fazia pratos deliciosos, e doces incríveis: por mais simples que fosse a receita, quando ela fazia sempre ficava mais gostoso.
É por isso tudo, e por muito mais, que sinto tanta falta da minha Maria. Ela lutou muito durante muito tempo, estava doente, mas não desistia. Acho que não desistiu, só que ficou muito cansada. E na última segunda-feira, ela descansou. A saudade é feroz, a tristeza idem. Mas sempre vou ter essas lembraças maravilhosas dela, e apesar da saudade, com o tempo só quero ter felicidade ao lembrar da minha avó, porque ela merece isso, ser lembrada como a pessoa maravilhosa que era. Sei que hoje isso parece impossível, não consigo conter as lágrimas nem enquanto escrevo este post, mas com o tempo tudo se ajeita. Agora sei que ela não tem mais dor, que ela não está mais sofrendo, e tenho a certeza que tudo que ela fez de bom não ficará esquecido, a minha Maria continua eternamente viva no meu coração.

3 Comentários:

Às 4:12 PM , Blogger Lomyne disse...

somos feitos de uma matéria humana demais para sermos indiferentes a acontecimentos assim. Com tuas palavras você levou um pouco de mim hoje. E acho que me trouxe umas lembranças da minha infância... saudades... (de você e da minha infância).

 
Às 9:20 AM , Blogger Cintia disse...

Ai, Engel, esse post foi lindo... Não dá pra imaginar uma homenagem melhor que vc poderia ter feito pra sua avó... Tenho certeza que, de onde ela estiver, ela está lendo isso e se sentindo toda orgulhosa.
Bjs,

 
Às 8:53 AM , Blogger Unknown disse...

...
Lost, oohhh lost...
(trecho de alguma música perdida na bagunça da minha cabeça)
E aqui me refiro aos nossos sentimentos, as vezes tão confusos e perdidos.
Não, não se preocupe, não há exatidão nos sentimentos, querida Márcia...
Você não tem dever de sentir nada, mesmo que pressinta que deva.
As homenagens, mesmo que matemáticamente pensadas, são homenagens.
Vasculhe seu coração e encontre a verdade. A verdade é que dói, que faz falta MESMO. E isso é a sua parte e é, de fato, o bastante.
Dor rima com amor.
Beijos,

 

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