domingo, 16 de julho de 2006

Tempestade

Há algo de estranho pairando no ar, um silêncio que pesa, oprime. Silêncio de sentimentos e de sentidos, tudo parece se calar. Talvez como a multidão se cala e prende a respiração na iminência de um desastre. Silêncio que precede a tempestade.
Eu ando pelos porões do Insanatorium, entre as velhas lembranças e tudo que perdeu a utilidade. Não é engraçado como nos recolhemos aos cantos mais profundos e à segurança das antigas memórias quando sentimos que o perigo se aproxima?
Lá fora o vento já ruge, prometendo tirar tudo do lugar. Certo, certo, não posso fazer nada sobre isso. As coisas mudam, não se pode impedir. Não quero me abalar com isso... não vou... não posso... oh, bem...
Há um quadro novo num dos corredores. Ele tem uma semelhança incrível com "O Grito" de Edvard Munch. Quando o vi pela primeira vez, ele colocou seus olhos esbugalhados sobre mim e murmurou "o que vamos fazer? oh, está tudo perdido! o que vamos fazer?". Eu lhe disse para relaxar, ele é apenas um quadro e eu sou mera sombra de um ser humano, tudo que podemos fazer é escolher um lugar com uma vista boa e observar o mundo vir abaixo.