terça-feira, 31 de janeiro de 2006

Um lugar ao sol...

Sim, é o mesmo título que usei no Garras, mas o post é diferente.

Estou aqui para dizer que fui parar num recanto de areias claras, de mar calmo e convidativo. Um lugarzinho cercado pela natureza, onde há vaga-lumes piscando nas noites quentes, cheiro de mato e flores no ar, e pássaros por todo lado. Vindo para a lan house, vi um pequeno pássaro de um vermelho muito forte, simplesmente lindo.

Já vi madames andando com cachorrinhos na praia, e nenhuma delas levava pá e sacola de lixo. Bebi água do mar sem querer porque sou a única criatura viva que toma caixote em mar quase sem ondas. Já fui picada por tantos borrachudos e pernilongos que em certos momentos parece que tudo arde e coça indiscriminadamente (picadas de borrachudo coçam por dias). À noite sempre entra um maldito vaga-lume no meu quarto e acaba andando em mim, coisa que eu odeio. Estou dormindo no chão, num colchonete tão fino que se colocar uma moeda sob ele, posso te dizer se é cara o coroa. E esqueci meu travesseiro, o improviso parece um tijolo com fronha. Tomei um mínimo de sol, e já pareço uma lagosta. Ok, um camarão discreto, porque eu fico rosa quando tomo sol, precisa queimar muito para chegar ao vermelho.

Férias maravilhosas. Não vejo a hora de voltar para casa.

terça-feira, 24 de janeiro de 2006

Olá.
Eu tenho a habilidade de ficar invisível. E vou fazer isso de vez em sempre.
Mas apareço quando quero, do jeito que eu quero, e vou embora nos mesmos termos.
E vou falar e falar e falar, e você não vai me entender, porque vou pular de assunto tantas vezes que no final você não vai saber se eu disse alguma coisa mesmo.
Que pretensioso, dirão vocês.
Não achem isso, ser randômico não é ser pretensioso. Seria pretensioso se achasse que sempre falo com razão. "Não sou perfeeeeito. E eu não esqueço, a riqueza que nós temoooos. Ninguéeeem, consegue percebeeeeer" (cantando como o Renato Russo).
Não tenho nada pra falar, acho eu. Não por agora. E você, alguma pergunta a fazer?
Ano novo, vida nova e retalhos de colcha pra costurar. Alguém quer mais do que isso?
Eu vi a queima de fogos, fiquei alto com duas taças de vinho e algumas de champagne.
Por falar em cinema (?) vocês tem ido? Eu fui, assisti tanto filme ruim... ^^
Daí, estava eu lendo uma caixa de cereais num dia de manhã e me peguei pensando em como estava calor. Abri a janela da lavanderia e senti aquele sol quente batendo no peito.
Olhei pra fora com os olhos ardendo.
Dia lindo, coisas a fazer, pessoas a ver. Ansiedade.
Vontade de fazer tudo ao mesmo tempo, de não perder nada.
E no fim a gente acaba sem fazer nada...
Vamos mudar isso. Eu estou mudando, e você?
Não se preocupe em comentar decentemente este post. Eu não fiz sentido, nada mais justo que você não comente nada com sentido também...
Btw, foi só pra notificar minha chegada.

domingo, 22 de janeiro de 2006

Um pedaço do passado

Tudo começou a uma eternidade, a uma breve vida. Era uma noite terrível e atormentada, onde nada era o que parecia, onde parecia que tudo estava errado, onde o tempo passava e a noite permanecia. Eu andava entre salas e corredores, e todos os lugares eram iguais. Até que descobri uma sala nova, com uma enorme janela de vidro.
Dessa sala eu via outra construção do lado de fora, a alguns metros de distância. Parecia ser uma sala igual, com a mesma grande janela. E ali havia alguém me olhando com uma expressão que eu nunca tinha conhecido. Ele sorriu e despertou algo que eu não sabia o que era, que eu gostava sem saber o motivo.
Do lado de fora a noite estava fria, e como nós dois não saíamos da sala, a olhar um para o outro, as janelas logo começaram a embaçar. Ao invés de um problema, isso se tornou uma ferramenta: passamos a escrever recados um para o outro no vidro embaçado. Estávamos separados, e extremamente próximos. Ele era real, e estaria ao alcance com algum esforço.
Porém existem pequenos demônios vivendo dentro das mesmas paredes que eu. Todos os temos, os meus não são piores ou mais travessos que os de qualquer pessoa, apenas atacam de surpresa. E não foi diferente nesse caso... Os demônios sussurravam pelos cantos, enchendo o ar com dúvidas e inseguranças. Até o dia em que as palavras na vidraça se desfaziam em veneno.
O afastamento era inevitável. Contudo, a sala estava sempre ali. E quando resolvi entrar mais uma vez, a janela mostrava ainda aquele a quem eu tanto queria. Ele também estava olhando através da janela. Era como se o tempo não tivesse passado. E tudo começou de novo.
Esse ciclo repetiu-se por incontáveis vezes. Sem saber o que acontecia ao certo, levantamos uma muralha transparente entre as janelas. A distância entre nós parecia mínima, quando na verdade era intransponível. A separação alimentava a fúria, a fúria cuspia palavras amargas. As coisas boas pelas quais passamos não eram o bastante para sustentar nossos sentimentos.
Um dia o vidro estava absurdamente turvo, não mudava por mais que eu quisesse limpar. Foi só então que percebi que sempre fora assim. Eu via apenas um vulto, e enxergava as coisas que eu queria ver na outra pessoa. Ele não era a pessoa que eu pensei que fosse, porque eu inventei uma pessoa para ver e amar. Talvez a imagem na outra vidraça fosse eu mesma refletida, falando nas entrelinhas das palavras de outra pessoa. Eram meus desejos, minhas expectativas, minhas paixões, minhas fantasias, meus conceitos, todos em conjunto atuando sobre uma imagem quase indefinida, moldando-a da forma que eu queria que fosse.
Eu saí da sala e tranquei a porta. Por muitas vezes a vontade de voltar é enorme, mas a porta está trancada e a chave perdida. As memórias foram encaixotadas, não têm mais lugar no presente. Eu sei que haverão outras salas, haverão outras pessoas acenando com amores do outro lado da janela. E quero acreditar que um dia haverá uma janela clara o bastante para não deixar que eu molde a imagem. E que a imagem do outro lado não será perfeita, mas a aceitação entre nós será recíproca.
Sim, eu sou uma romântica.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2006

Obituário

Eu escrevi cuidadosamente um post enorme, muito inspirado. Sabe, daqueles que a gente termina e pensa "esse vai entrar para a história"...

Quando mandei publicar, deu erro. A conexão tinha caído (nunca confie no Speedy, nem na Telefonica). Quando reconectei, tentei ainda salvar alguma coisa, mas...

Apesar de usarmos todos os recursos disponíveis, o post não resistiu e entrou em óbito na madrugada desta sexta-feira. Já entramos em contato com a família, que autorizou a doação de órgãos e tecidos.

PS: ok, eu ia reescrever, mas perdi o pique. Era muita coisa, e post trazido de volta com macumba não é mais a mesma coisa...

PPS: speedy maldito, queime no inferno!

domingo, 15 de janeiro de 2006

"Meu querido diário"

Decididamente eu preciso fazer uns momentos "meu querido diário" neste blog...
Eu tentei misturar isso com a loucura que eu mesma iniciei, mas um diário lúdico nem sempre é compreendido. Sem contar que às vezes, quando passo os fatos para o meu mundinho insano, eu moldo os acontecimentos de um jeito que ninguém mais entende, só eu vejo o paralelo com a realidade.
E sejamos sinceros, ninguém usa blog para contar segredos, nós somos exibicionistas mesmo =P
Outro dia, a Leela disse que releu o próprio blog e achou seus posts antigos mais ágeis, leves e engraçados. Hoje eu fiz a mesma coisa com meu antigo blog, eu tinha escondido os posts mais antigos dele, mas ainda estão lá. Eu me peguei rindo das coisas que eu escrevia (ainda não acredito que um dia eu disse que estava escrevendo do "frosquete do mundo"), percebi que meu humor era melhor... talvez não tão ácido quanto é agora, mas era diferente eu acho.
Por essas e outras, não vou mais prender o blog só aos textos "poéticos" (chamem como quiserem), eu quero resgatar a pessoa que fez os posts antigos do outro blog.

E foi também por essas e outras que topei me mudar pro blogspot e entrar de garras afiadas nessa história...

Para não esquecer das coisas boas

08.01.2006
Um barulho no salão central chamou minha atenção. O que mais faz barulho aqui além de mim? Já no corredor senti uma brisa leve correndo mansa, trazendo para dentro o cheiro da terra molhada pela chuva que havia caído, da grama verde e das flores e árvores do lado de fora. Não foi surpresa ver a porta principal aberta quando cheguei no salão. Alguém lá fora acenava para mim, uma voz amiga me chamava a sair, e eu não recusei. Havia uma reunião no jardim, fiquei surpresa ao ver três ou quatro pessoas além da amiga que me chamava. Sentamos todas perto do lago e falamos como se fôssemos todas velhas conhecidas. Quase não notei que já não era noite, a luz da manhã envolvia nossa reunião. Tudo era leve naquele instante, as palavras fluíam cheias de graça, e em inusitadas taças bebíamos o riso fácil e sincero. Aos poucos as pessoas foram despedindo-se, tomando seus próprios caminhos, apenas aquela amiga ficou. Nem notamos que o dia todo já passara por nós, que já era noite de novo. A lua cheia nos iluminava enquanto a conversa continuava. Em meu íntimo eu perguntava por qual motivo deixei-me isolar dessa amizade tão boa, e não havia uma resposta, era natural para mim ficar sozinha. Conversamos sobre passado e presente, rimos juntas de alma aberta, como só podem fazer os amigos de verdade. Só quando a noite já ameaçava tornar-se madrugada nos permitimos despedidas. Sem a menor sombra de medo ou tristeza, porque as despedidas agora serão curtas, serão sempre "até breve".

Há borboletas no telhado

30.12.05
Subindo as escadas, batendo da roupa-alma a nostalgia empoeirada, passos leves em corredores sem fim. Subo as escadas, os degraus metálicos rangem sob meus passos. Estou só, mas há outros aqui. Eles passam indo e vindo, falam comigo, fazem companhia às vezes. Estão em seus próprios insanatórios, só nos encontramos porque esses complexos à vezes têm alguma ala comum, ainda que sejam totalmente separados e isolados. Somos reais uns para os outros, porém não há engano: dentro do insanatório só se ouve os próprios passos. Os passos dos outros não fazem som, porque os outros não estão aqui comigo, o peso deles faz pressão sobre degraus em outras escadas que não são as minhas. No telhado sopra uma brisa levemente fria, que faz arrepiar. O céu é azul escuro, começando a mudar de cor, anunciando que o amanhecer existe não muito longe do agora. Não está claro ainda, mas não é mais aquele céu negro de meia-noite-sem-estrelas que eu via a pouco tempo. Há borboletas no telhado, esvoaçando em todas as direções. Ainda está muito escuro para ver-lhes os desenhos, porém as cores são indiscutíveis. E o movimento, o alegre bailar em ondas de brisa. No horizonte um ponto luminoso sobe rápido, um cavaleiro apressado e determinado. E de repente a explosão, os pontos iluminam a noite, uma festa luminosa se expandindo. O céu de eterno amanhecer se transforma em tela, o mundo lhe salpica pontos brilhantes. Deixo cair o vestido, saúdo a noite de braços abertos. Há mais borboletas no telhado, rápidas, delicadas, suas asas batendo de leve em meu rosto, nos meus braços. Elas deixam suas cores em mim, a impressão das asas coloca cor sobre minha pele, sou a tela em branco que o acaso vai colorindo numa revoada de borboletas com asas-pincéis-de-alma.

Feliz Ano Novo.

A Caixa

22.12.05
Andando pelos corredores, tropecei numa grande caixa de papelão. Apesar de ser uma caixa velha e batida, eu sabia que o conteúdo era importante, as coisas dentro dela ainda se moviam e flutuavam, dançavam sozinhas umas com as outras. Empurrei a caixa pelo corredor, até o esconderijo debaixo da escada. A caixa se abriu um pouco e seu cheiro doce, leve e dourado espalhou-se, inconfundível e discreto, era marcante, era como se sempre estivesse em toda parte, como se fosse parte do ambiente, ainda que sua chegada fosse avassaladora. Os quadros nas paredes se remexeram em sua imobilidade, nada neles mudou, mas estavam diferentes, olhavam sem mover os olhos, acompanhavam fingindo indiferença. Todos sabiam, todos queriam, todos queriam mais, e tinham medo, e tinham desejo. Sob a escada, sentei ao lado da caixa e comecei a remexer o conteúdo. Era engraçado como parecia tão vivo depois de todo o tempo que se passara, como era vibrante mesmo esfarrapado. Eram retalhos leves e coloridos, de um momento que não existe mais. Havia o retalho com a declaração escondida, o retalho da declaração correspondida, o retalho dos sonhos entrelaçados. O quadro triste no final do corredor começou a gritar e debater-se na parede, todos os outros quadros tremiam diante do alarme. Inclinei o corpo para fora do esconderijo e olhei para o quadro triste. "Eu sei", sussurrei, e o quadro silenciou, ainda ressabiado. Continuei remexendo na caixa, a saudade fazia meus dedos formigarem. Retalhos lindos e vivos, porém ainda eram retalhos soltos, não havia mais meios de costurá-los na realidade. Estavam definitivamente fora, suspensos num mar sem fim de "não sei". Fechei a caixa com cuidado, passei fita adesiva em todo canto, para mantê-la bem lacrada. Arrastei a caixa de novo para o corredor, o quadro triste agitou-se ao vê-la. "É só o passado, já acabou", pensei comigo. A caixa era pesada, deslizou lentamente pelos ladrilhos, até o final do corredor, e depois desceu degrau por degrau até o porão. Deixei a caixa encostada ao lado do resto dos arquivos. Assim como a caixa, ao armários metálicos tinham em suas gavetas todo tipo de lembrança, toda sorte de coisas que não quero jogar fora, mas que já não se encaixam mais no quadro da vida hoje.

sábado, 14 de janeiro de 2006

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