quarta-feira, 12 de março de 2008

Título pendente

Ela vestiu o velho vestido cinza mais uma vez, e não havia nada que pudesse ser feito a respeito. O pano puído assentava-lhe confortavelmente no corpo, e apesar da aparência tão gasta, ela sabia que o vestido estaria sempre ali. "Essas coisas duram para sempre", pensou, olhando-se no espelho sem interesse. Suspirou e saiu do quarto, passos lentos de quem não está indo a lugar algum.

Atravessando o corredor, ouviu passos leves e furtivos, acompanhando-a. Não era uma surpresa. Passou por mais dois cômodos até chegar ao hall da frente, e por todo o caminho outros passos juntaram-se aos seus. "Curiosos e oportunistas", pensou consigo mesma. Saiu para a varanda, sentiu a brisa noturna acariciar-lhe os cabelos. Sentou-se nos degraus e esperou.

A primeira figura que se aproximou veio pelo jardim, andando meio encurvada, os olhos carregados de dor, o rosto contorcido pelo sofrimento. Estendeu as mãos para a mulher na escada, que não se moveu.

- Me abrace - disse a figura com voz suplicante.

- Se eu lhe estender a mão, você vai me morder. De novo.

A figura aproximou-se assim mesmo, e sussurrou-lhe muitas coisas ao ouvido. Falou de todas as velhas feridas, mas nada disso abalou a mulher. Eram velhas feridas que talvez nunca cicatrizassem, porém elas já não sangravam mais. Vendo que a mulher não vacilava, a Agonia afastou-se, arrastando-se pelo jardim. Deixava sua sombra pairando sobre a mulher. Talvez para sempre.

Em seguida, uma velha aproximou-se silenciosamente pelas suas costas. "Sempre sorrateira", pensou a mulher na escada, sem se mover.

- Você não é mais tão jovem, não é mais aquela adolescente que podia ficar esperando por dias melhores. - disse a velha.

- Não, não sou.

- E o que você tem? Um arremedo de vida. Migalhas de afeto, nos melhores dias. Relacionamentos de muita cortesia e pouca sinceridade...

- Eu tenho isso. - interrompeu a mulher.

A velha calou-se por um momento, olhando ao redor. Havia ali apenas campo aberto até onde os olhos podiam alcançar. Como não havia nada ali que pudesse ser visto, a velha lançou um olhar interrogativo para a mulher na escada, que respondeu calmamente:

- Tenho esse imenso vazio, essa colossal solidão que me cerca, esse isolamento infinito. Foi isso o que construí por toda minha vida. Eu sei disso tão bem quanto você, e sei de todas as minhas dores e desamores. Você pode ficar remoendo essas coisas o quanto quiser, mas não precisa me falar delas, porque eu nunca as esqueço.

Diante da calma com que essas palavras foram ditas, a velha recolheu-se. Não foi embora, apenas afastou-se um pouco, e ficou olhando, resmungando baixo desventuras de toda a vida. A Tristeza não a deixaria tão fácil, era uma velha muito esperta e insistente.

Sentada na escada, a mulher olhava para a noite vazia. Um pequeno enfeite desprendeu-se da barra do seu vestido e rolou pelos degraus, desaparecendo na grama. A mulher passou a mão no tecido onde o enfeite estivera preso, sem dar muita importância. Era apenas mais uma pequena desilusão, apenas mais um pequeno pedaço de beleza que ela perdia.

A mulher sentada na escada permaneceu em silêncio, imóvel. Estava imaginando como uma história assim poderia acabar...

segunda-feira, 10 de março de 2008

A nova novela online

Pois é, eis que estou voltando. De novo. Mais uma vez. E dessa vez, como em outras, a culpa é da Lomyne, que voltou também e disse que ia me bater se eu não voltasse... rs.

Mas falando sério, a Lomyne foi encontrar um post meu de 2003, quando eu disse que ia abandonar o blog e depois voltei atrás por insistência dela e do Paulo. Aliás, vou até copiar o post aqui:

Quarta-feira, Maio 21, 2003

EU ME RENDO!

Eu disse que ia sumir, etc e tal, num daqueles famosos momentos "tô largando tudo". E já estou voltando atrás, olha eu aqui de volta... rs.
E ainda vou apontar os culpados: todos meus amigos de blog, as pessoas incríveis que conheci por aqui, e que me deram uma força e me fizeram ver que nada é tão drástico como eu costumo pensar que é. ;-) Dois desses culpados, os principais, são o Paulo e a Lomyne, que me mandaram uns e-mails para desarmar qualquer defesa (aquela muralha que a gente ergue quando está emburrado, sabe?). Os dois me pegaram de surpresa, são pessoas que acompanho já a algum tempo, e admiro um bocado em muitos sentidos.

Céus, um post de 2003! Estou me sentindo velha e acabada, uma vovozinha brincando de blog... rs. E mesmo passado tanto tempo, esses dois continuam sendo pessoas que eu adoro e admiro muito.

Bom, parece que eu já enrolei um post inteiro aqui, né? Aguardem o próximo capítulo da nossa novela "O Eterno Retorno da Engel Blogueira"...

*passa os créditos*